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Data:2021-09-28 20:15:03 Hora: | postado: Josevânio | Em: Política

Pernambuco às moscas

Quando Deus o chamou em 2014, numa fatalidade que comoveu o País, o ex-governador Eduardo Campos partiu com a imagem de gestor ousado, inovador e moderno. Mais do que isso, que havia tirado o Estado da sarjeta, fazendo inveja ao Ceará e a Bahia, rivais na atração de investimentos. Na prática, não era bem assim. Eduardo não era marqueteiro, mas  governava como tal.

Com a sua morte precoce, o Estado, que parecia bem, no rumo certo, foi se deteriorando. Tudo hoje, como bem disse, ontem, o cantor Alcymar Monteiro, é sinônimo de abandono. O Recife, por exemplo, perdeu a liderança do PIB regional para Fortaleza e Salvador, estando em terceira posição. Suape virou um elefante branco. Mais de 90% das frutas saídas de Petrolina via navio para o mercado internacional se dão pelo porto de Pecém, no Ceará.

Tudo porque são caríssimas as tarifas portuárias praticadas pelo porto pernambucano. O estaleiro, que seria uma das tábuas de salvação da economia, virou tempestade do Norte, só produzindo até agora um navio. É outro elefante branco. Milhares de trabalhadores treinados e contratados para produzir navios estão a ver navios, literalmente desempregados. A refinaria, que seria o carro-chefe da geração de renda e emprego, não anda. Aliás, anda, a passos de tartaruga.

Há muito, Recife não sabe o que é uma obra de infraestrutura. A cidade continua campeã em engarrafamento, suja, calçadas malcuidadas e com o simbólico bairro Antigo jogado às moscas. O Estado não tem estradas. De norte a sul, a começar pela BR-232, a mais movimentada, que Jarbas Vasconcelos construiu com o dinheiro da venda da Celpe, se trafega driblando buracos, colocando e vida em risco. Pernambuco também não tem segurança. A Região Metropolitana continua sanguinária como nos tempos do cangaço.

Na semana passada, ao botar o pé na estrada, constatei, mais uma vez, a cara do abandono do Interior. Em Fazenda Nova, o Parque Nilo Coelho de Esculturas Monumentais, uma das vitrines do turismo no passado, está coberto pela caatinga, sem receber um só visitante. Trata-se de um equipamento cultural fantástico. Enormes blocos de granito viraram esculturas de dois a sete metros, algumas chegando a 15 toneladas, 37 peças foram agrupadas por temas em nove setores, investimento de mais de R$ 2 milhões jogado fora.

Já ontem, postei no blog o retrato da sucata em que foi transformado o prédio histórico do bicentenário Diário de Pernambuco, um dos cartões postais do passado compondo a paisagem cultural da famosa e lendária Pracinha do Diário. Mário Quintana dizia que o que mata uma cidade não é o abandono. É o olhar de quem passa por ela indiferente, como os governantes insensíveis do Estado. Quando um patrimônio público é abandonado, a vizinhança é a solidão. A indiferença e o abandono, na verdade, causam danos irreversíveis à história e a cultura.

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